quarta-feira, 29 de julho de 2009

Vitalidade

Tenho algumas questões a resolver na minha relação com o tempo. Por vezes brigo com ele, outras festejo, admiro, as vezes sinto melancolia... Nessa relação, o danado do Tempo sempre insiste em me mostrar a sua força e a importância do seu "passar".

Sempre gostei de conviver e conversar com pessoas mais velhas. Convivi muito com meus avós (os paternos são meus padrinhos) gosto das memórias, das histórias, das fotos de família, das texturas e marcas que a vida deixou ali, no corpo e nas emoções. Gosto do tempo dos idosos, mais pausado, mais sereno - um sereno que não assusta... Ao mesmo tempo, me angustia a proximidade com o fim - mais um tema para a terapia!

Conheci algumas pessoas que me mostraram a vitalidade de uma forma crua, direta! Quando vi pela primeira vez o banco de cavalo marinho de Mestre Batista, em Aliança/PE, em meados de 95, sai profundamente modificada. Aquele encontro foi fundamental para uma série de escolhas pessoais, estéticas e profissionais, mas hoje vejo que a maior lição daquela noite foi a vitalidade daquelas pessoas que mesmo depois de passar o dia todo em trabalhos braçais, passavam a noite toda (cerca de 8 horas) dançando, cantando, tocando, interpretando, com uma energia contagiante! Hoje, continuo convivendo com muitos daquelas pessoas, principalmente com Biu Roque, 75 anos (estou co-produzindo o disco dele agora), e mesmo mais frágil fisicamente do que quando o conheci, continua tão cheio de vida quanto a 14 anos atrás. Poderia citar diversos exemplos de festas, cavalos-marinho, sambadas que depois de tocar e"brincar" a noite toda, Biu Roque seguiu firme e animado, tocando até o sol já estar bem forte no céu.

Em meados de 97, eu com meus 18 anos fui a Alagoas com a Comadre Fulozinha e a grande espectativa da viagem era conhecer a afamada Mestra Virgínia, então com cerca de 80 anos, e nós cantávamos várias músicas dela. Fomos até a sua casa, ela não estava. A notícia é que D. Virgínia teria ido a um reisado que ficava a uns 6km de lá. Fomos lá! Eu estava com uma gripe bem forte, com direito a febre e amidalite. Chegando lá em no reisado de Mestre Pituguari, a imagem era a de uma senhora dançando, cantando e reclamando com as meninas mais novas porque elas não dançavam de maneira tão animada como deveriam... Fiquei boa parte da noite no carro, com "medo do sereno" e tentando melhorar da febre... Quando, no meio da madrugada, resolvi descer do carro e "encarar" a brincadeira, conversei um pouco com D. Virgínia e soube que ela tinha levado uma mordida de cachorro na perna e que mesmo assim, tinha andado os 6km até aquele local, estava dançando a noite toda e ainda era a mais animada mesmo com tudo isso e com seus 80 anos nas costas... Confesso que me senti constrangida de ter passado a noite quase toda no carro com medo do sereno "ofender" a minha amidalite...

Biu Roque, D. Virgínia, Mestre Pitiguari e outros tantos artistas me ensinaram uma das maiores lições: a arte é uma necessidade orgânica e que é ela que nos faz viver!

E quando esse medo do fim e da morte chegam, o Tempo mostra sua presença sempre. Mostra que os "fins" e a "morte" são tão necessários quanto a vida e os "começos". E que não é preciso ser velhinho pra morrer e que por isso, não precisa morrer por estar ficando velho. Nesse momento, a vitalidade mostra a sua face novamente!
















2007 - Eu e Biu Roque no intervalo das gravações; ele com 74, meu colar e meu óculos; eu com 28, aprendendo... * Foto: Nara Cavalcanti

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Paciência.

Semana passada estava em São Paulo, gravando meu disco novo, e depois da maratona (cerca de 13 horas por dia no estúdio!), conseguimos nos dar 4 dias de folga!

Logo no primeiro dia, convidei uma amiga querida, além de excelente artista plástica, Vânia Medeiros para nos acompanhar na exposição de Vik Muniz . Fiquei impressionada com o trabalho do rapaz. As obras dele despertaram em mim uma coisa que só fui processar no juízo depois que voltei pra casa...

Mais do que admirar a técnica, as formas, o conceito da arte de Vik, o que me impressionou foia a paciência! Eu, que nunca me vi como uma pessoa das mais pacientes, me encantei com a paciência necessária para transformar poeira, lixo, macarrão, diamante, chocolate, recortes, brinquedinhos... em arte, e das boas!

Lembrei de um ensaio que fizemos antes dessa viagem para SP, em que quando Caçapa fez umas mudanças num arranjo que já estávamos ensaiando, um do músico falou que aquilo não era nada prático! Caçapa, que é uma das pessoas mais pacientes que conheço, respondeu, parafraseando uma senhora* entrevistada por Hermano Viana, durante a série Música do Brasil: "Eu não gosto de nada prático!"

Claro que isso virou jargão entre nós da banda... mas muito mais do que isso, me colocou em contato com a paciência que eu achava que não tinha! Percebi que a paciência se expressa em cada um de maneira diferente. Em mim, ela é um pouco mais prática, mas não ao ponto de se irritar tão facilmente assim. Claro que tem coisas que pra mim, parece que a paciência nunca foi lá: dentista, noivas, depilação, fila, serviço ruim, grosseria... e mais uma porção de coisas que me fariam fazer uma lista enorme.

Mas não é essa paciência que precisamos nos dia a dia que me deixou tão mexida. Até porque essa não é mérito meu ter ou não, é necessária, pronto! Sem isso, nosso cotidiano vira um inferno. A paciência que me deparei nas tanto nas obras de Vik Muniz, quanto na aparente "falta de praticidade" de Caçapa e da senhora entrevistada por Hermano; é a quela que precisamos ter para a criação, para a reflexão, para o amadurecimento das coisas e de nós mesmos. É a paciência com a vida, com o tempo.

Criar exige muita paciência! Sempre que entro num processo criativo mais intenso (e com prazo) como produzir um disco ou uma trilha, percebo que a paciência é necessária não apenas para aquele período de trabalho cronometrado, porque a criação não se dá apenas naquele espaço de tempo. Ela começa bem antes, em cada coisa que você escuta, lê, assiste, se alimenta. Depois, as ideias precisam de tempo para amadurecer e começar a "nascer", e ai é que precisamos ter mais paciência do que nunca! Porque esse é o momento de respeitar a criação, mas ao mesmo tempo trabalhar arduamente para o seu aprimoramento, para que se chegue a uma forma interessante e lapidada. Nem sempre isso é totalmente agradável, muitas vezes angustia, dói, incomoda. Mas ver depois a obra pronta nos dá um prazer tão grande que nem lembramos mais do tanto de paciência que precisamos ter para vê-la assim.

Diante isso, vejo que sou até bem mais paciente do que poderia imaginar! Agora só me falta ter paciência para o dentista! Abre a boquinha, e olha o balanço!










quinta-feira, 16 de julho de 2009

Armei a Minha Rede

Comprei um caderninho novo. Resolvi criar um blog!
Pra falar de que? Minha terapeuta me sugeriu começar um diário com os meus sonhos, mas definitivamente, não será esse o lugar!
Na verdade, nem sei ainda se quero escrever sobre meus sonhos... prefiro só falar, as vezes nem isso... enfim.
O que importa é que decidi que quero tentar escrever, faz tempo que penso nisso. Confesso que sempre que essa ideia aparece, acaba se perdendo nas questões do cotidiano ou no meio da preguiça do final do dia. Vejamos se agora dá certo.
Então, sobre o que mesmo será esse blog? Ainda não sei ao certo, talvez sobre mim, ou sobre os outros, talvez sobre ninguém, quem sabe sobre as coisas, lugares? Bem, talvez seja esse o lugar da liberdade!
Vamos ver no que dá, porque agora vou armar o meu balanço...