sexta-feira, 17 de julho de 2009

Paciência.

Semana passada estava em São Paulo, gravando meu disco novo, e depois da maratona (cerca de 13 horas por dia no estúdio!), conseguimos nos dar 4 dias de folga!

Logo no primeiro dia, convidei uma amiga querida, além de excelente artista plástica, Vânia Medeiros para nos acompanhar na exposição de Vik Muniz . Fiquei impressionada com o trabalho do rapaz. As obras dele despertaram em mim uma coisa que só fui processar no juízo depois que voltei pra casa...

Mais do que admirar a técnica, as formas, o conceito da arte de Vik, o que me impressionou foia a paciência! Eu, que nunca me vi como uma pessoa das mais pacientes, me encantei com a paciência necessária para transformar poeira, lixo, macarrão, diamante, chocolate, recortes, brinquedinhos... em arte, e das boas!

Lembrei de um ensaio que fizemos antes dessa viagem para SP, em que quando Caçapa fez umas mudanças num arranjo que já estávamos ensaiando, um do músico falou que aquilo não era nada prático! Caçapa, que é uma das pessoas mais pacientes que conheço, respondeu, parafraseando uma senhora* entrevistada por Hermano Viana, durante a série Música do Brasil: "Eu não gosto de nada prático!"

Claro que isso virou jargão entre nós da banda... mas muito mais do que isso, me colocou em contato com a paciência que eu achava que não tinha! Percebi que a paciência se expressa em cada um de maneira diferente. Em mim, ela é um pouco mais prática, mas não ao ponto de se irritar tão facilmente assim. Claro que tem coisas que pra mim, parece que a paciência nunca foi lá: dentista, noivas, depilação, fila, serviço ruim, grosseria... e mais uma porção de coisas que me fariam fazer uma lista enorme.

Mas não é essa paciência que precisamos nos dia a dia que me deixou tão mexida. Até porque essa não é mérito meu ter ou não, é necessária, pronto! Sem isso, nosso cotidiano vira um inferno. A paciência que me deparei nas tanto nas obras de Vik Muniz, quanto na aparente "falta de praticidade" de Caçapa e da senhora entrevistada por Hermano; é a quela que precisamos ter para a criação, para a reflexão, para o amadurecimento das coisas e de nós mesmos. É a paciência com a vida, com o tempo.

Criar exige muita paciência! Sempre que entro num processo criativo mais intenso (e com prazo) como produzir um disco ou uma trilha, percebo que a paciência é necessária não apenas para aquele período de trabalho cronometrado, porque a criação não se dá apenas naquele espaço de tempo. Ela começa bem antes, em cada coisa que você escuta, lê, assiste, se alimenta. Depois, as ideias precisam de tempo para amadurecer e começar a "nascer", e ai é que precisamos ter mais paciência do que nunca! Porque esse é o momento de respeitar a criação, mas ao mesmo tempo trabalhar arduamente para o seu aprimoramento, para que se chegue a uma forma interessante e lapidada. Nem sempre isso é totalmente agradável, muitas vezes angustia, dói, incomoda. Mas ver depois a obra pronta nos dá um prazer tão grande que nem lembramos mais do tanto de paciência que precisamos ter para vê-la assim.

Diante isso, vejo que sou até bem mais paciente do que poderia imaginar! Agora só me falta ter paciência para o dentista! Abre a boquinha, e olha o balanço!










4 comentários:

  1. chamou dentista? olhe que dentistas tem muita paciencia :)

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  2. tem um filósofo francês que eu adoro, chamado gilles deleuze, que diz que o escritor é um ser que se aproxima de um animal, por que está sempre à espreita. mesmo um cachorro (o bulldog, por exemplo, rsrs), que é bastante domesticado, quando está parado, descansando, nunca está totalmente relaxado, se acontecer algo mínimo, ele volta à posição de guarda. o artista, seja plástico, escritor, músico, gente que cria, tem isso, não existe nunca um momento de relaxamento total, sempre existe uma espreita, ainda que mínima, não dá pra a gente se separar do trabalho, não tem carga horária... a criação, como vc mesma diz, está o tempo todo sendo germinada dentro de nós, muito antes do "produto" né?
    bom, conversas :-)

    espero que nossas criações continuem se cruzando, contruindo tramas de muitas redes que serão armadas pelo mundão e além!

    beijos filosóficos e saudades!

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  3. Muito bem, senhora, já não tinha muito o que fazer, né? Então se balance daí que faço o mesmo daqui. E como diria Mário Prata, acho que foi ele quem disse: "A diferença entre um escritor e as demais pessoas é que enquanto todo mundo diz, sonha, pensa ou planeja escrever, o escritor senta a bundinha na cadeira e escreve". Portanto, mãos à obra e felicidades com a nova empreitada. Parabéns pelo blog.

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  4. Vânia, adorei conhecer um pouco de Gilles, vou procurar ler mais coisas dele. No momento, estou tentando estabelecer uma relação mais amigável com Nietzsche...

    Pois é Paulo, não tinha quase nada pra fazer mesmo... mas o que posso fazer se tem "coisas" querendo sair da minha cabeça? Principalmente depois que retomei a terapia! ui...

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