sábado, 14 de agosto de 2010


Todos nós temos pelo menos uma mania e prezeres incompreendidos.... Adoro desatar nós. Posso passar um bom tempo me dedicando a entender de onde vem cada cordão e pensando como desfazer aquele emaranhado de linhas... Adoro quando consigo desatá-los! Mas calma, isso não me faz dar nós só pelo prazer de desatá-los depois. O nó tem que existir "por si só". Não gosto de enrolar, o prazer está em justamente desenrolar as coisas.

E o que fazer quando um nó fica totalmente "cego"? Podemos tentar apelar pros dentes e se mesmo usando toda a força da mandíbula ele não desatar, podemos apelar para uma tesoura, faca, foice... e dependendo do caso, até mesmo um marinheiro (bem, o marinheiro foi sugestão de um amigo...) ou uma Nossa Senhora gabaritada especialmente nesse assunto.

Mas, existem alguns nós que não tem a menor graça. Nó no peito, na gargante, na cabeça, no estômago, no intestino... Tem alguns que parecem tão "cegos" que você chega a pensar que não há mais nada o que fazer, e que terá que aprender a viver assim, todo emaranhado e enrrolado. Porque nesses casos, não dá pra simplesmente cortar com a tresoura. Se bem que dependendo do caso, talvez um bom marinheiro poderia ajudar bastante...

A questão é que não dá para conviver com os nós. Pelo menos eu não. Cansa, cansa entender a origem de cada fio, por onde ele passou, em quem ou o que se enrolou (se em outro cordão ou se nele mesmo), mas quando você consegue desatá-lo, pode ficar feliz e respirar aliviado! O fio pode até ficar amassadinho no final, mas estará desilinhado e isso já é um ótimo começo...

terça-feira, 29 de junho de 2010


Há alguns dias que venho pensando em escrever sobre fé, mas hoje, dia de São Pedro deve ser um bom dia pra falar sobre isso. Afinal, não foi ele que negou Cristo por três vezes?

Mas, o que esperar de um texto sobre fé de uma pessoa que foi educada em escolas católicas, frequenta centros e tem uma família kardecista, adora ouvir uns tamborzinhos chamando os Orixás, se emociona ao ouvir conselhos de encantados, caboclos, mestres e pretos velhos? Bem, na verdade, nem mesmo eu sei o que "esperar" desse texto... "Ai o meu novêlo de lã!!!"

Eu que não gosto de radicalismos, continuo sem aceitar muito as religiões extremistas, nem as guerras "santas", a manipulação da fé alheia e essas coisas que a humanidade faz desde que o mundo é mundo. O problema é que sempre que falamos em fé, ainda costumamos pensar em instituição religiosa e nos seus dogmas. Porém, cada vez mais acredito que a fé independe, de certa maneira, de tudo isso. Fé, significa o exercício da crença e isso pode ser posto em prática até por quem não acredita em Deus, Espíritos, Orixás, Buda, Santos...

Achei no Wilipedia:
"Fé (do [[grego] fides, fidelidade[1] e do grego pistia) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.
A se relaciona de maneira unilateral com os verbos acreditar, confiar e apostar, isto é, se alguém tem em algo, então acredita, confia e aposta nisso, mas se uma pessoa acredita, confia e aposta em algo, não significa, necessariamente, que tenha . A diferença entre eles é que ter é nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo amor pelo que acredita,confia e aposta. ( http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9 )"

Continuarei me dedicando à descobrir as verdades que fazem sentido pra mim, continuarei me trabalhando discernir onde e quando depositar minha confiança absoluta, pois a minha fé foi se formando assim, em meio a tantas referências religiosas e a crenças distintas, mas que pregam sempre a mesmo coisa: amor, respeito, caridade. E se tenho fé absoluta em alguma coisa, é que isso é o que deveria nos nortear.

domingo, 30 de maio de 2010

O gostinho da memória

A minha memória para nomes e fisionimias, é péssima! Isso é motivo de piada entre os amigos e parentes... Já passei por diversas situações contrangedoras de pessoas conversando comigo, as vezes como um amigo íntimo, e eu sem a menor noção de que seja àquela criatura e sua "procedência"... Já dei carona a uma menina que até hoje não faço ideia de quem seja, mas que era absolutamente íntima (nunca mais faço isso!). Caçapa me salva muitas vezes, mas quando estou sozinha, ou quando ele não sabe quem é, fico numa aflição só... Já segui a sugestão de falar com as pessoas repetindo o seu nome, pelo menos 3 vezes, mas nem isso é "garantia de sucesso" para a minha memória.

Também não sou muito boa (mas também não muito péssima) com datas, nomes de livros, de filmes, diretores, atores...

Já geograficamente, sou ótima! Lembro dos lugares, nome de muitas ruas, referências, caminhos... Dificilmente me perco, consigo pensar em caminhos alternativos... Conheço pessoas (principalmente mulheres, é verdade) que só andam de um ponto a outro, por um mesmo caminho, mesmo que haja um trânsito enoooorme, não têm a menor condição de tentar um caminho alternativo. Já fiquei cerca de meia hora no celular, com uma amiga desesperada, presa num trânsito, durante uma passeata. Ela muito atrasada para pegar os filhos na escola, estava quase histérica sem saber o que fazer pra sair dali. Fui narrando o caminho alternativo (nem tão alternativo assim) até ela "se achar" novamente (ainda bem que foi ela quem me ligou!).

Também tenho uma memória olfativa muito boa! Lembro muito do cheiro das pessoas e dos lugares. Isso me faz viajar no tempo e relembrar situações maravilhosas e outras nem tanto, mas as lembranças são assim mesmo.

Meu olfato também já me salvou de várias! Comidas que vão estragar, queimado, gás... normalmente, sinto antes de todo mundo. O único problema desse olfato "apurado" são com os cheiros ruins. Há realmente uma intolerância enorme de minha parte!!! Não consigo conversar com ninguém com o hálito ruim, ou com o o suvaco, cabelo, suor... fedorento. Nada de ambientes fedidos... Enfim, mas esse post não é sobre odores e fedores!

Essa semana, comi uma coisa que tem o gostinho da minha avó/madrinha. Falei isso pro meu filho e ele fez uma cara engraçada seguida pela pergunta: "Como é que vovó Bessinha pode ter gosto de banana comprida (cozida) com queijo ralado e açúcar???" Mas, é verdade! A memória também tem sabor! E a minha avó Bessinha tem esse gostinho mesmo!!! Bem, no caso dela, tem vários gostinhos (ela cozinhava muitas delícias) mas esse é o que mais me faz lembrar dela.

Começamos a listar os sabores de algumas pessoas - minha mãe tem gostinho de papa de aveia; minha sogra de macarronada; Caçapa de café com chocolate amargo; Caio de carne de sol! Adorei descobrir, que Caio acha que eu tenho gostinho de molho!!! Sim, disse que meus molhos são sempre deliciosos! Hahahahaha... nunca havia parado pra pensar que gosto que eu tinha, agora já sei e certamente vou caprichar ainda mais no cardápio dos molhos aqui em casa e sempre que ele comer um molho delicioso, sua memória virá até mim...

Se você tiver a oportunidade de conviver com alguém idoso ou com problemas sérios de memória, saberá lhe dar valor...

A memória é mesmo encantadora! Perceber o que nos marcou, os bons momentos, as pessoas queridas e os instantes maravilhosos que passaram por nossas vidas, é fantástico! Por outro lado, lembrar de coisas que machucaram, magoara, ou nos feriram profundamente dói. Dói mesmo a cada lembrança... Mas, fazer o que? Refletindo recentemente sobre as minhas memórias doloridas e desagradáveis chego a conclusão (será que conclui mesmo? bem, por hora está me servindo): Não adianta querer esquecer e fingir que as coisas nunca aconteceram, não adianta fugir das nossas lembranças dolorosas, elas fazem parte de nós. De quem nos tornamos! Tenho tentado muito fazer com que todas as memórias boas e maravilhosas sempre sejam muito maiores do que as ruins! Se funciona? Ah, até agora, tem me deixado mais feliz! Isso já basta!

Termino esse posto com esse quadro de Salvador Dali (adoro a obra dele!) intitulado A Persistência da Memória.



segunda-feira, 26 de abril de 2010

A noite hoje é a maior!


Na sexta-feira passada, São Jorge levou, em seu cavalo, nosso querido Biu Roque.

Amigo querido, mestre de tantas brincadeiras, músico desde os 8 anos, cantor dos mais intensos, afinados e fabulosos que tive o prazer de ouvir, trabalhador da cana, pai de muitos, avô de muitos tantos, bisavô de muitos mais e que se orgulhava muito de ser o "causador" de toda àquela gente...

Nos conhecemos há 15 anos, eu com 16, ele com 61...

Quando recebi a notícia, de modo um tanto desajeitado, estava me preparando para começarum show no APR Club (do Festival Abril Pro Rock). Tudo caminhava para uma noite memorável, pela primeira vez (não sei porque não houve antes) tocaríamos na mesma noite que Siba e a Floresta, estávamos muito animados por dividir o palco com nossos amigos de tantos anos e parceiros com tantas afinidades musicais...

Biu Roque já estava doente, há cerca de 10 dias, o show já seria dedicado a ele (assim como dediquei o de São Paulo e o de BH), mas seria dedicado à sua melhora e não a sua memória... Subir no palco e fazer uma festa depois de uma notícia como essa não é fácil, não foi fácil... Mas lembramos (eu e Caçapa) muito de duas ocasiões em que estávamos com Biu Roque, quando recebemos notícias como essa.

A primeira foi numa sambada que fomos em Chã de Camará (Aliança), no ensaio do Maracatu Estrela de Ouro. No caminho, vimos um corpo estendido na estrada, em meio à cana. Quando chegamos no terreiro da Chã, soubemos que era de um caboclo do Estrela que foi assaltado indo pra sambada... Tristeza imensa em todos. Claro que o samba ia acabar! Claro que não! Decidiu-se fazer a sambada em homenagem ao amigo morto. Foi uma das sambadas mais fortes e emocionantes que já participei! Depois dessa noite, Caçapa compôs "Chã de Camará", gravada no CD do Chão e Chinelo (http://soundcloud.com/cacapa/cha-de-camara-chao-e-chinelo).

A segunda, foi quando Chico (Sciense) morreu. Estávamos em Olinda, brincando no Boizinho (Boi da Gurita Seca) e chegou a notícia do acidente de carro. Choque pra todos! Claro que o samba ia acabar! Claro que não! Tocamos pra Chico, emocionados e com fé, que ele iria ouvir.

O show de sexta-feira foi assim! Tenho certeza de que Biu Roque nos ouviu e que a música que ele também fez parte, o ajudou a chegar no céu com festa! Estou certa de que muitos amigos sambadores como Mestre Batista, Deodato e tantos outros que já se foram, estavam lá para recebê-lo. Além, claro, de D. Maria.

Muito se falou nele esses dias, muitos lamentaram, muitos foram ao cemitério de Condado se despedir, eu inclusive. Sairam notas no jornal (mesmo com foto errada!), mas ainda sem dar metade da importancia que ele teve para a música de Pernambuco, do Brasil.

Muita gente tem nos perguntado sobre o CD de Biu Roque. Se estava pronto, se vai sair...


Sobre o disco, ele tá pronto (gravado, mixado e masterizado) há quase um ano... produzido por Caçapa (que também arranjou praticamente todas as músicas) e Missionário José e co-produzido por mim. Com os músicos do interior (o pessoal da Fuloresta e duas filhas de Biu Roque - Lurdinha e Maíca) participações nossas e também de: Siba, Hélder Vasconcelos, Juliano Holanda, Cláudio Rabeca, Lula Marcondes, Renata Rosa e Iara Rennó.

O disco está pronto! Biu Roque participou ativamente de todo o processo de produção do disco. Escolheu o repertório, opinou, decidiu os convidados, acompanhou quase todos os dias de gravação, ficou, várias vezes, cerca de 12 horas no estúdio e terminava o dia mais animado do que todos nós. Ouviu o disco finalizado e aprovou o resultado!

Recebemos a capa final na sexta-feira passada. Ia imprimir hoje e levar no hospital pra ele ver... não deu tempo... verá de outra maneira...

Lamentamos imensamente que ele não tenha tido tempo de aproveitar a repercussão do seu disco, tão esperado e feito com tanto amor. Lamentamos que ele tenha ido... Lamento não poder mais conversar com ele... Lamentamos a ausência...

Mesmo lamentando tantas coisas e sentindo a ausência do amigo querido, durante o enterro e esses dias seguintes, o meu sentimento de gratidão é realmente bem maior do que a dor da perda. Agradeço muito à vida, por ter conhecido e convivido com ele. Por ter tido o privilégio de fazer o seu disco, que não deveria ter sido o único solo... temos material para mais um ep, pelo menos, que já estava nos planos, assim como uma exposição, que também vinha sendo acalentada para o lançamento do CD...


Bem, esse texto não é para reclamar de nada, nem para lamentações eternas... é para lembrar e espantar a saudade...


Agora, nos resta seguir em frente, terminar a produção do CD e manter viva a lembrança do músico fabuloso, da pessoa querida e carismática e de todas as lições que ele deixou!

Agradeça à Deus cada tempo e cada amigo que você tem!

"Ter uma brincadeira, é ter uma alegria na vida"





Beijo grande, meu amigo!