domingo, 30 de maio de 2010

O gostinho da memória

A minha memória para nomes e fisionimias, é péssima! Isso é motivo de piada entre os amigos e parentes... Já passei por diversas situações contrangedoras de pessoas conversando comigo, as vezes como um amigo íntimo, e eu sem a menor noção de que seja àquela criatura e sua "procedência"... Já dei carona a uma menina que até hoje não faço ideia de quem seja, mas que era absolutamente íntima (nunca mais faço isso!). Caçapa me salva muitas vezes, mas quando estou sozinha, ou quando ele não sabe quem é, fico numa aflição só... Já segui a sugestão de falar com as pessoas repetindo o seu nome, pelo menos 3 vezes, mas nem isso é "garantia de sucesso" para a minha memória.

Também não sou muito boa (mas também não muito péssima) com datas, nomes de livros, de filmes, diretores, atores...

Já geograficamente, sou ótima! Lembro dos lugares, nome de muitas ruas, referências, caminhos... Dificilmente me perco, consigo pensar em caminhos alternativos... Conheço pessoas (principalmente mulheres, é verdade) que só andam de um ponto a outro, por um mesmo caminho, mesmo que haja um trânsito enoooorme, não têm a menor condição de tentar um caminho alternativo. Já fiquei cerca de meia hora no celular, com uma amiga desesperada, presa num trânsito, durante uma passeata. Ela muito atrasada para pegar os filhos na escola, estava quase histérica sem saber o que fazer pra sair dali. Fui narrando o caminho alternativo (nem tão alternativo assim) até ela "se achar" novamente (ainda bem que foi ela quem me ligou!).

Também tenho uma memória olfativa muito boa! Lembro muito do cheiro das pessoas e dos lugares. Isso me faz viajar no tempo e relembrar situações maravilhosas e outras nem tanto, mas as lembranças são assim mesmo.

Meu olfato também já me salvou de várias! Comidas que vão estragar, queimado, gás... normalmente, sinto antes de todo mundo. O único problema desse olfato "apurado" são com os cheiros ruins. Há realmente uma intolerância enorme de minha parte!!! Não consigo conversar com ninguém com o hálito ruim, ou com o o suvaco, cabelo, suor... fedorento. Nada de ambientes fedidos... Enfim, mas esse post não é sobre odores e fedores!

Essa semana, comi uma coisa que tem o gostinho da minha avó/madrinha. Falei isso pro meu filho e ele fez uma cara engraçada seguida pela pergunta: "Como é que vovó Bessinha pode ter gosto de banana comprida (cozida) com queijo ralado e açúcar???" Mas, é verdade! A memória também tem sabor! E a minha avó Bessinha tem esse gostinho mesmo!!! Bem, no caso dela, tem vários gostinhos (ela cozinhava muitas delícias) mas esse é o que mais me faz lembrar dela.

Começamos a listar os sabores de algumas pessoas - minha mãe tem gostinho de papa de aveia; minha sogra de macarronada; Caçapa de café com chocolate amargo; Caio de carne de sol! Adorei descobrir, que Caio acha que eu tenho gostinho de molho!!! Sim, disse que meus molhos são sempre deliciosos! Hahahahaha... nunca havia parado pra pensar que gosto que eu tinha, agora já sei e certamente vou caprichar ainda mais no cardápio dos molhos aqui em casa e sempre que ele comer um molho delicioso, sua memória virá até mim...

Se você tiver a oportunidade de conviver com alguém idoso ou com problemas sérios de memória, saberá lhe dar valor...

A memória é mesmo encantadora! Perceber o que nos marcou, os bons momentos, as pessoas queridas e os instantes maravilhosos que passaram por nossas vidas, é fantástico! Por outro lado, lembrar de coisas que machucaram, magoara, ou nos feriram profundamente dói. Dói mesmo a cada lembrança... Mas, fazer o que? Refletindo recentemente sobre as minhas memórias doloridas e desagradáveis chego a conclusão (será que conclui mesmo? bem, por hora está me servindo): Não adianta querer esquecer e fingir que as coisas nunca aconteceram, não adianta fugir das nossas lembranças dolorosas, elas fazem parte de nós. De quem nos tornamos! Tenho tentado muito fazer com que todas as memórias boas e maravilhosas sempre sejam muito maiores do que as ruins! Se funciona? Ah, até agora, tem me deixado mais feliz! Isso já basta!

Termino esse posto com esse quadro de Salvador Dali (adoro a obra dele!) intitulado A Persistência da Memória.